quinta-feira, 26 de maio de 2011

MUMBAI PELOS OLHOS DE ANTÔNIA PELLEGRINO

O que me fascinou não foi a cidade de Mumbai ou a descrição de aspectos da cultura indiana, mas a visão de tudo isso pelos olhos de Antônia. A confissão de sua experiência. Única, realista. Sem medo de marcar sua decepção, pela falta de higiene ou pelos maus modos dos homens em relação a mulheres. Sim, estes talvez sejam somente detalhes, possivelmente irrelevantes no conjunto.                                                         
Tratava-se de um depoimento em programa da TV Cultura. E ela estava á vontade para falar do mês que passou em Mumbai com o objetivo de coletar informações e um assunto para romance de grande editora.

                                                                                             
Seu tom não escondia desconsolo, raiva e decepção. Bem informada a respeito da literatura e aspectos da cultura indiana, ela indicava competência profissional enquanto discursava muito à vontade, sem compromisso a não ser com sua experiência pessoal, livre para elogiar e criticar.

Aí está o melhor de tudo.  Viajar com ela, que soube ponderar sobre tudo o que percebeu. Olhos maduros, apesar da pouca paciência. Ou por causa deles. Foi bom, andar por aquelas ruelas de novo, e pelas pequenas multidões de indianos por suas mãos. Por suas considerações justas, por seus olhos bem abertos para a realidade.

E, houve ainda uma imagem de namorados ao cair da tarde. Ela descreveu olhos femininos,  possivelmente temerosos, levantando-se tímidos ao encontro dos olhos de seu namorados. Casais em movimentos delicados, exercitando a aproximação vagarosa no amor possível àquela sociedade.
De repente, tudo o que era feio desaparecera, como se Antônia enfim tivesse perdoado todo o resto de que não gostara.
                                                           

domingo, 22 de maio de 2011

POR UM MUNDO MELHOR

Plínio Montagna  (presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo) diz no jornal de hoje: "Passado e futuro são referências apenas do presente. É disso que trata uma psicanálise. /.../ Mais do que conjeturar o passado, importa configurar graus crescentes de liberdade interior para o indivíduo lidar com o presente e com a trama que imprime às suas relações, se apropriando daquilo que se vai revelando verdadeiro em seu ser. A apropriação de sua singularidade radical, a favor da vida, pode-se dizer o escopo nuclear de um processo analítico."

Ele explica a pessoa pode na "sala de análise pode-se reconstruir imaginativamente seu passado, não necessariamente o factual, vivido "de fato", mas, sim, a narrativa que dele faz para si mesmo."

E daí nos é possível redimensionar e reorganizar o passado, e viver melhor o presente, afirma ele.

E vai mais longe: "O futuro se ancora nas escolhas que fazemos hoje, dentre aquilo que a vida nos apresenta e nossas criações próprias."

Talvez, a imagem abaixo ilustre uma pessoa que, com certeza, nos estimula a fazer esse movimento de revisão para a construção de um mundo melhor.  Em Madrid, reclama e protesta em praça pública. Seu compromisso com um ideal nos lembra de que sair em busca de novos futuros depende de nossas ações pessoais possíveis dentro de muita liberdade.

Ele saiu em busca de algo; Todos podemos nos fazer capazes desse movimento, de dentro de nossa singularidade radical e a favor da vida.

                                                                             
                                                                      

sábado, 21 de maio de 2011

WERNER HERZOG E O DOCUMENTÁRIO SOBRE O PALEOLÍTICO

                                                                           
Li a notícia do último filme de Werner Herzog, que já fez Fitzcarraldo (1982) e Aguirre, a cólera dos deuses (1872), entre outros mais recentes.
Trata-se de A Caverna dos Sonhos Esquecidos, documentário realizado na Caverna de Chauvet, na França, que contém exemplares de arte rupestre paleolítica.

Claro que nos perguntamos, em seguida, o que ele quis ali, nesse lugar que foi recentemente descoberto (1994) e ficou cerca de 30 000 mil anos selado, guardando as espécies de  registros mais antigos criados por humanos. Ele confessou ao repórter que tem fascínio pelo tema desde jovem.


Fala mais: " Esse é o nascimento da alma humana moderna. É espantoso haver um eco cultural tão distante que parece se estender até nós.  Em Chauvet, há a pintura de um bisão abraçando a parte inferior de um corpo feminino nu. Por que Picasso, que não sabia da caverna, usa exatamente o mesmo motivo em sua série de desenhos do Minotauro e a mulher? Muito estranho. "



Concordamos com você, Werner, muito estranho mesmo.


Ainda diz adiante: "É preciso ativar a imaginação do público e o filme cola em você como se você mesmo tivesse estado na caverna."
Certamente, ele se transportou para a época paleolítica, viveu o impacto dessa descoberta.

De sobra, nós ganhamos a obra de cinema que busca mobilizar nossa imaginação, cedendo à tecnologia 3D, por ser "imperativa nesse caso", diz ele se redimindo.

Não duvidamos de nada, Werner! Esperamos pelo documentário, com ansiedade.