O
pai era um senhor alto, grandalhão, bem vestido, de pasta, óculos e terno
impecável. Possivelmente do time dos executivos.
Ao
preparar a leitura de seu mapa, detectei como elemento predominante o fogo que
promete disposição e atividade fortes, vontade dinâmica e masculina. Pude
detectar tais características em seu comportamento. Ele seria facilmente
identificado com uma mistura de vontade e idealismo, importantes dados que
movem o mundo. A leitura de seu mapa foi interessante e ele me ouviu com olhos
atentos de quem estava desejando saber a respeito de seu mapa natal. Não houve
surpresa: era da equipe dos executivos bem sucedidos.
Depois,
era a vez do mapa natal do filho que indicava um contexto diferente. O jovem
mostrava uma disposição delicada e talentosa para as artes, com predominância
do elemento água.
Por
Batman, por todos os deuses do Olimpo e até pelo velho Conan!, a situação era
difícil, pois o adolescente estava sendo encaminhado para a escola militar.
Sua
natureza quase feminina, talvez reagisse mal a essa circunstância autoritária e
disciplinadora. Mas, por outro lado, a fase astrológica que ele passava
indicava uma época de aprendizagem e de limitações. Poderia ser então benéfica.
Seria? Estariam os adultos a sua volta atentos para os paradoxos dessa situação
e preparados para dar suporte ao rapaz no novo contexto?
Como
astróloga eu não poderia levar em conta meus desejos pessoais, certamente. Não
cabia a mim, torcer a favor do menino ou desejar que o pai tivesse uma atitude
educativa diferente. Neste momento era impossível indicar uma educação de cunho
mais humanista. Tudo já estava planejado e era um sonho do pai.
Que
a humildade esteja sempre presente ao lado do astrólogo profissional
especialmente quando ele está em frente ao cliente! Quem sabe o que a vida promete
para as pessoas? Que mistérios escondem a presença desse filho na vida de seu
pai? Quem é a astróloga para dizer algo a respeito dessa questão tão familiar e
misteriosa?
Lá
estava eu com a questão inevitável: dizer para o pai a verdadeira natureza do
rebento. Normalmente os pais, bem no fundo de seu coração, desejam ouvir que
seu herdeiro, também o é de suas qualidades pessoais.
Procurei
observar aquela pessoa à minha frente, enquanto eu ia desfiando as ideias a
respeito do mapa do filho. Haveria decepção? Frustração? Rebeldia perante uma
brincadeira da genética?
Mas,
quem sabe se essa não seria a natureza da mãe? Ela era já falecida. Não obtive
outras informações a seu respeito. Mesmo procurando com jeitinho questionar a
esse respeito, esse detalhe não pareceu importante ao pai.
Ele
estava na minha frente e eu lhe passei a informação que ele tinha vindo buscar.
Não vislumbrei reação que pudesse me dizer seus sentimentos.
Não
houve abertura para outras abordagens da questão que me preocupava. Eu tinha
uma notícia a dar. Como síntese, o meu discurso disse: seu filho é um artista.
Que ele faça bem a escola militar com sua ajuda e presença, parceiras
importantes no tempo e espaço dessa experiência.
Mas,
meu coração desejava de mansinho: deixe-o ir por esse caminho, se um dia o
desejar. Ainda que seja após a escola militar. Que ele cumpra a tarefa da
família e que ele possa viver todos os lados de sua natureza.
Será
que isso aconteceu?