quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

MENSAGEM DE FINAL DE ANO DO ASTRÓLOGO ALAN OKEN



A mensagem de Alan Oken, astrólogo, de final de ano nos traz uma reflexão que seria bom levarmos ao longo de 2016: não nos esqueçamos do que é realmente importante. É muito fácil nos perdermos entre as seduções ilusórias do mundo material. 


Que em 2016 possamos manter a esperança no novo dia por chegar. Que possamos nos lembrar sempre da Graça Divina. Feliz Ano Novo!




"Minimizar as compras e maximizar as doações de Natal – isso nos poupa de entrar na briga polarizada entre os níveis emocional e material. A energia que salvamos fora de tal caos nos permite centrar mais facilmente no coração e assim fazendo, entramos em uma comunicação mais profunda com o Self Crístico. Atenção! Natal é, antes de tudo uma celebração de aniversário do Ungido Self em nós. Então, a maior e mais importante dádiva é nos reconhecermos Nesse  Self e a partir daí, dar e dar um pouco mais. O desastre do pensamento polarizado e a violência resultante nos planos astral e físico vai aumentar. Nossa responsabilidade é permanecer imutável e implac avelmente centrados no coração: perspeptivos e ativos a partir desse nível. Qualquer coisa menos vai nos jogar de forma irrevogável para o caos no mundo em torno de nós seja nas lojas ou em um campo de batalha mais ativo e violento. Enfeite a sala com ramos de consciência ... fa la la , la la.la. Amor e bênçãos para todos e cada um." ALAN OKEN

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

ALGUNS ASPECTOS DO MAPA NATAL DE MARÍLIA PERA

Ela nasceu em 22 de janeiro de 1943, RJ (sem horário) e seu mapa natal apresenta um Grande Trígono em signos de ar (Sol, Mercúrio e Vênus em Aquário, Netuno em Libra, e Urano e Saturno em Gêmeos) e uma Lua em Leão (uma diva, com muito charme).

O Grande Trígono em signos de ar nos diz que ela era inteligente, idealista e expansiva. Em geral, ele indica predominância para conceituar as experiências em nível mental, e até certa dificuldade de transformar os ideais em realidade. Mas isso não parece ser o que ocorreu com Marília Pera. Ela realizou uma obra consistente e inserida no contexto cultural brasileiro por mais de cinco décadas. Tinha ideais e ia atrás deles, construindo assim uma intensa carreira. O depoimento de seus amigos e colegas de trabalho confirmam o caráter amigo de aquariana generosa.


Pela diversidade de sua atuação no canto e na dança, como produtora e diretora, como intérprete, podemos ler sua curiosidade social e mental. Com certeza ela tinha uma mente aberta, que permanecia observadora e ao mesmo tempo livre para explorar tudo o que atraísse sua atenção. Daí que, sendo uma das artistas mais completas do Brasil, atuou no cinema, teatro e na TV, ocupando todos os espaços possíveis a sua arte.


Como essa forma fixa (Grande Trígono) é predominante, fui observar o ano de 1969 em que ela ganhou os primeiros três grandes prêmios de sua carreira por sua atuação em “Fala baixo senão eu grito”, de Leilah Assunção: melhor atriz de Teatro pela APCA; melhor atriz pelo Governo do Rio de Janeiro e  Molière de melhor atriz. A partir daí, ela colecionou muitos outros somando mais de trinta ao longo da carreira.


Nessa época podemos observar os trânsitos de Urano em seu Netuno natal (uma das pontas do Grande Trígono) de novembro de 1967 a setembro de 1970 (1968 e 1969). Acentuando essa fase propícia, Júpiter também passou por esse Netuno natal entre novembro de 1968 a setembro de 1970 (1969). Ou seja, os anos de 68 e 69 era época de aberturas e renovação cheia de entusiasmo e de otimismo. Sem dúvida, um começo de carreira promissor.


Na teoria, o Grande Trígono em ar indica um campo emocional inconstante. Seus quatro casamentos poderiam ratificar essa dificuldade? Talvez eles indiquem que ela era intensa em seu emocional, como convém a uma Lua em Leão. Além do elemento ar, tinha muito elemento fogo também: Marte/Sagitário e Plutão/Leão. Mistura audaciosa de  paixão e inteligência (seu Saturno era conjunto a Urano ambos em Gêmeos, ponta do Grande Trígono). O depoimento de Nelson Motta (postagem no facebook de mesmo nome, 06/12/15) seu marido e pai de duas filhas, diz que “Marilia vai fazer muita falta porque era muitas, cada uma melhor que a outra. E convivi com várias delas. No teatro, seu território sagrado e seu campo de batalha, no cinema, na televisão e na vida real, que era o seu personagem mais complexo e imprevisivel.O papel de mãe tambem era muito difícil para a diva.” Ou seja, a oposição Lua-Leão/Vênus-Áquário cobrou a ela o preço de uma vida emocional difícil em vários aspectos femininos, inclusive o de mãe.

Ela desenvolveu uma carreira múltipla porque era várias como diz Nelson Motta. Uma mulher de imenso potencial artístico, capacidade criativa e com ousadia para usar seu talento, expressão máxima de um Grande trígono em signos de Ar com aqueles planetas implicados. Nossa homenagem a ela.

Esta análise privilegiou apenas alguns aspectos do mapa dessa grande artista. Entre na roda e aponte outros!


Visite o facebook de Nelson Motta, postagem de 6/12/15, “Viva Marília!”

PS: Agradeço a presença e colaboração de Tereza Kawall: Visite:  http://www.blissnow.com.br/   e     https://www.facebook.com/JUNG-online-Tereza-Kawall-1099583936733346/?fref=ts

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

CHOPIN E A MÚSICA QUE TRAZ HARPAS AO VENTO



A música de Chopin se dá por uma espécie de nebulosa ondulatória que
descortina possibilidades. Vários momentos musicais se somam
numa perspectiva de multiplicidade.
José Miguel Wisnik, O Estado de S. Paulo, 14/05/2010

Era o século XIX, o grande século em que tudo acontecia com um gosto de novidade. A revolução Industrial trazia desenvolvimento. Os salões fervilhavam. O desenvolvimento técnico do piano e a comercialização das partituras agitavam a atividade musical como nunca antes. O clima era intenso e a oportunidade, para todos.
Exilado de uma Polônia subjugada, ele encontrou logo o êxito que merecia em Paris em sua curta vida (1810-1849). E soube escapar de pressões para escrever obra épica que revelasse o espírito nacionalista de sua pátria natal. Preferiu resgatar as raízes populares em forma de mazurcas e polonaises. Além delas, compôs noturnos, valsas, prelúdios, baladas, sonatas e improvisos. Preferiu a música de salão nem sempre bem considerada, tornando-a especial, para além do virtuosismo e sentimentalismo característicos do romantismo novecentista.
Daí que a comparação com outro importante pianista de seu tempo possa ajudar na compreensão de particularidades de seu gênio. Liszt desenvolvia suas composições no estilo descritivo próprio à sua época e não falta quem o defina como mais talentoso do que Chopin. A polêmica é grande a esse respeito. Na verdade, eram ambos grandes músicos mas diferentes em seu estilo e temperamento. Chopin talvez fosse menos simpático. Ou talvez menos afeito à moda. Mas, cada um do seu jeito ajudou na composição do interessante grupo que habitava a vida cultural parisiense.
Desde os dezoito anos de idade, ele sofria de um problema pulmonar com hemoptises e febres que foram recorrentes em outras fases de sua vida até que o conduziram à morte.  Nem o cuidado de sua companheira por cerca de nove anos, George Sand e a ida para a ilha de Maiorca viver em clima melhor foram suficientes para o curar ou pelo menos diminuir suas crises.
Mas, talvez os anos de convivência com essa companheira tão especial lhe tenham dado alento para a produção de sua obra em que havia aspectos de vanguarda estética e habilidade sob uma aura de charme e sedução. Ela, que tinha um comportamento de vanguarda diferenciado em relação às mulheres de seu tempo, com sua independência poderia entendê-lo nos aspectos especiais de sua vocação.
Um viés altamente técnico estaria escondido por detrás das melodias fáceis. Um paradoxo estaria presente na obra de Chopin: por um lado, apelo à profundidade e anseios sentimentais; por outro, imparcialidade e perspectiva técnica. Ele era um compositor de música de salão e inovador. Segundo José Miguel Wisnik, professor e músico, esse aspecto de inovação implicaria em certo tipo de escuta por parte do público. Seria necessária uma percepção atenta para a descoberta dos níveis de suas invenções, arpejos e para a completa percepção da complexidade de seus arranjos. Sua arte seria acessível apenas às escutas mais refinadas.
Mas seu perfil inclui também aspectos emocionais, fragilidades e sonhos, além desses elementos mentais e técnicos. Ou seja, um rico paradoxo que o inscreve além do sentimentalismo que o tem caracterizado desde sempre. A qualidade técnica de sofisticada elaboração mental misturada a fatores menos tangíveis e ligados ao reino das emoções caracterizariam a obra de Chopin.
A partir daí, é mais fácil explicar a ligação entre Chopin e a polifonia de Bach que lhe teria servido de inspiração e que é composto de ideias e de linhas geométricas. Segundo Wisnik, Chopin teria alcançado uma elaboração diferenciada em seus estudos, gênero em que ele teria conseguido atingir a “música pura, abstrata, imparcial, perfeita”.
Há outra frase, de texto de autoria do mesmo professor, que diz: “Romântico rigoroso e extremamente exigente,/.../ esse músico fazia ciência poética com os sons, promovia viagens afetivas ao indizível e elevava os exercícios digitais á esfera dos exercícios espirituais.”.
Não poderia haver definição mais adequada para a reunião das qualidades opostas que caracterizam sua música, como temos observado: uma ligação entre a emoção e a abstração. O lado delicado relacionado aos anseios da alma e as viagens científicas de suas experimentações. Tudo convergindo para um caminho de busca maior que o adjetivo espiritual deixa entrever, nessa incrível composição integrada entre emoção e mente.  Muito além do seu tempo, com certeza.
Robert Schumann, compositor alemão também muito conhecido de sua  época, falava, a propósito de Chopin, “/.../ no efeito de harpas eólicas, tocadas pelo vento, no qual se entreouvissem melodias” . Essa metáfora descreve lindamente os arpejos das composições de Chopin. Poderia haver melhor exemplo de uma respiração mental privilegiada do que as longas sequências de notas em ondas sonoras e as sequências de arpejos em ritmo acelerado, tudo a serviço da beleza? 
Você já ouviu a música de Chopin? Já ouviu harpas tocadas pelo vento? Essa metáfora encanta pela capacidade de expressão daquilo que não podemos expressar senão pelas imagens. Palavras não dão conta de nos dizer como é a tessitura de sua música, quais são as histórias que ela nos conta nos “planos múltiplos que se entrelaçam”, em suas perturbadoras construções. Temos muitas razões para voltar às valsas de Chopin. E não somente a elas, mas a todas as suas composições.  

PS:Este texto se baseou nas informações da palestra realizada no dia 14/05/2010 na Sala São Paulo e em ensaio de publicação da OSESP, de José Miguel Wisnik.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

CANTADAS


Há cantadas de todos os tipos: sedutoras, grosseiras, ridículas, poéticas, infantis, bem-humoradas. Mesmo em tempos de assédio moral e de outros radicalismos. Toda mulher gostaria de ter uma na lembrança. É um lampejo, faísca elétrica, no ramerrão de um dia comum. Uma onda mais forte, em meio à distração ou a certo marasmo que por vezes podem nos habitar.

Um dia, estava subindo uma ladeira perto do largo de São Francisco, no centro de São Paulo. Um carro estacionava na guia por onde eu passava. O rapaz que estava no lado direito ia saindo do carro, abrindo a porta, perguntou-me sério:


- Por favor ! Você sabe onde fica uma igreja perto daqui?

- Igreja não sei, mas há a capela da Faculdade de Direito, no largo logo aí acima desta rua.
Dei-lhe resposta, sem pensar muito, distraída. E aí veio a surpresa, clarão:
- Quer casar comigo?

Titubeei, balancei nas pernas. Sorri. Enrubesci? E me veio uma alegria imensa, como se de repente o mundo se abrisse à minha frente enquanto eu seguia pelo meu caminho. Olhei a roupa que eu vestia naquele dia, como se isso pudesse marcar o transitório do evento. Justificar quem sabe. Era uma saia verde clara e uma camiseta bordada na altura dos ombros com uns detalhes de miçangas desenhando pequenas flores e folhas.

Foi assim que eu, me sentindo mulher, senti a cantada. Qual de nós não quer se sentir desejada, passível de amor? Qual de nós não quis ser bonita um dia? Não tirou da gaveta, desprezada que estava em épocas difíceis, uma certa beleza, um sorriso vermelho, uns cílios alongando os olhos, um colorido na roupa, um jeito enviesado de pente no cabelo?

Mas, nem sempre as coisas funcionam dessa forma. Os homens entendem tais sutilezas? As mulheres ainda desejam as cantadas? Os comportamentos têm mudado muito.

Mas, meu desejo é que a força de uma cantada feita com delicadeza não se tenha perdido completamente. Ela é capaz de despertar a beleza do feminino como aconteceu quando o poeta cantou "olha que coisa mais linda, mais cheia de graça... é ela, menina, que vem e que passa...". Ele homenageava a mulher a partir de seus olhos. Ele punha em movimento a sensibilidade que também estava nos olhos dele. Descortinava a beleza em um encontro especial, ainda que fugaz, entre o feminino e o masculino. Existimos a partir do olhar do outro. É o outro que nos dá existência. Homem e mulher.

Guardo fortemente dentro de mim o desejo de que elas não se percam. Nelas nos certificamos de nossa presença, em inesperada realidade. Algo concreto preenche o ar, como se de uma cartola do mágico de cara e luvas brancas, emergisse a essência da natureza feminina. Ela é a ruptura dentro do prosaico. Quase um fragmento do divino.

Nesse pequeno movimento, há um ato generoso, tão provisório e pontual, há um contato. Uma possibilidade faz-se verdade, um encanto. O homem nem desconfia como o mundo se transforma. Nem precisa de mais, só isso basta. E o mundo fica melhor.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O SAGITARIANO REBELDE DO HOSPITAL DO CÂNCER DE BARRETOS


Henrique Duarte Prata  (Diretor presidente do Hospital de Câncer de Barretos) é um sagitariano com aspectos fortes de Aquário que lhe prometiam um destino de rebelde. Mas, ele tinha mais aspectos no mapa que o tornaram um realizador com sensibilidade e coração. Quais são eles? 

Desenvolveu-se como agropecuarista, foi campeão nas festas de peão em Barretos e na doma de cavalos (Sagitário e signos de terra Touro e Capricórnio).
Henrique Duarte Prata nasceu a 18 de dezembro de 1952 (SP, sem horário) (*), filho de médicos. Aos quatro anos foi viver com o avô materno (Lua em Capricórnio em oposição a Urano em Câncer). Aos quinze deixou os estudos para ficar na vida da fazenda entre as atividades no campo. Nessa época ele vivia: SATURNO em trânsito em oposição a Saturno/Netuno natais; e em trígono a Sol e Plutão formando um Grande Trígono em signos de fogo; também havia um T-S quare de SATURNO em trânsito em quadrado com Lua e Urano natais; ainda Urano em trânsito fazia um quadrado ao Sol. Apesar de ser uma decisão difícil, ela foi feita sob efeitos de forte apelo de ideais e de ímpetos de liberação de autoridade.

Em 1988 tomou contato com as dificuldades financeiras da Fundação Pio XII (que cuidava do hospital fundado por seus pais). A primeira sugestão era resolver as dívidas e fechar a instituição. Mudou de idéia e com ajuda das primeiras doações deu início a um projeto de novo hospital. Nesse ano havia PLUTÃO em trânsito em oposição a Júpiter natal e em quadrado com Vênus, formando um T-Square.  Além desse trânsito de Plutão, NETUNO também em trânsito estava em trígono com Júpiter. SATURNO E URANO em trânsito estavam em conjunção ao Sol natal.  Era um momento astrológico especial e intenso.
Era fase para lidar com seu talento de gestor de finanças e (Júpiter em Touro mobilizado por dois trânsitos) e para se comprometer com o coletivo (Vênus em Aquário). O comprometimento que a conjunção natal Netuno/Saturno prometia em Libra se efetivou. Netuno em trânsito pode ter sido uma benção dos céus (em trígono ao Júpiter natal). Daí em diante, as doações se multiplicaram e o projeto cresceu.

Esse foi o começo de um complexo que foi além da região de Barretos, se estendendo por todo o território brasileiro. Ganhou o selo de hospital de ensino como residência em cirurgia e medicina nuclear entre outras especialidades. Tem ganhado atualmente reconhecimento internacional pela excelência de todos os aspectos de seu funcionamento: ensino e pesquisa.
No mapa natal o Sol em Sagitário em trígono com Plutão empresta a Henrique Prata poder para grandes realizações a partir de anseios humanitários. Ele procura fazer no atendimento hospitalar o “código ouro” (que custa caro !) para todos sem exceção.
Esse ideal de justiça típico de um sagitariano que tem metas é seu lema no hospital. Junta eficiência na gestão e uma filosofia que une o respeito ao patrimônio humano e moral, junta ciência, tecnologia e humanismo. Mas ele tem ainda outros ideais, como o de querer conhecer a alma das pessoas. Segundo ele, todos temos uma força interior. O segredo é olhar para o próximo com amor.

O piloto profissional e campeão entre peões (Sagitário) tornou-se o diretor geral do Hospital do Câncer de Barretos (SP) em profundo compromisso com o coletivo. E atualmente, observamos que seu trabalho de vida ganha importância política e ele apresenta aspectos combativos plutonianos que exerce com independência (Aquário). Então sem constrangimento ele indica as falhas no sistema hospitalar brasileiro porque talvez tenha a dimensão de sua responsabilidade nessa área. E ainda diz que tem muita fé (Sagitário) e que Deus provê quando o hospital fecha as contas do mês no vermelho, o que ocorre todo mês. Não é uma linda pessoa?   
(*) O estudo só levará em conta os aspetos entre planetas e não as casas natais (mapa efetuado para 12h).
PS:  acompanhe a entrevista que ele deu no programa Roda Viva da TV Cultura em outubro de 2015 :  https://www.youtube.com/watch?v=aO-uh_EzYwM

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

INUMERÁVEL MÁRIO, A OBRA E O HOMEM

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Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...

Ouvi recentemente que Mário de Andrade é polígrafo, ou seja, seus múltiplos interesses se distribuíram em uma obra imensa. Em geral, dela apenas conhecemos a poesia vanguardista de Paulicéia Desvairada e a prosa nada convencional de Macunaíma. Mas ele é mais do que esse intelectual interessante e genial participante do grupo modernista de 1922. O que você conhece dele? Acompanhe-me e, como eu, apaixone-se.

MÁRIO DE ANDRADE, HOMEM DE MUITOS TALENTO

Ele foi poeta, romancista, crítico, professor e pesquisador de música, de folclore, de filosofia, de arte em geral. Este ano houve muitas homenagens, publicações e palestras, tudo para nos lembrar de sua importância aos 70 anos de sua morte. Tenho conhecido outros aspectos de sua obra e tomei contato também com o homem, suas preocupações, anseios e valores.

Na busca por informações eu soube de seu processo criativo nos textos, a partir de anotações e ideias criteriosamente organizadas e planejadas. Também conheci o professor de música que escreveu o Ensaio sobre a Música Brasileira, essencial para a criação do musicólogo brasileiro.

Ele efetuou pesquisas nos anos de 1927 e 1928, em viagens etnográficas ao Norte e Nordeste para coletar material de cultura popular e de folclore, porque era empenhado em conhecer a cultura nacional e em preservar a memória dela.
De 1935 a 37 foi gestor do Departamento Cultural na cidade de São Paulo, tempo em que construiu bibliotecas, os parques infantis, a rádio escola, o primeiro curso de biblioteconomia do país e concebeu a Sociedade e do Curso de Etnografia. Seu projeto era ambicioso e abrangia uma percepção de educação total, civilizatória, começando na cidade, com pretensões de se estender para o Estado e até para o País. Nessa função colocou toda sua vocação de intelectual, de escritor e de músico. Mas seus desejos de formação de uma cultura musical a ser espalhada por professores em todo o país, para além de virtuosismos não puderam ser efetivados. A grandeza de seu projeto não garantiu sua permanência e ele foi substituído no cargo.

mario_de_andrade_5_abr15.jpgDepois disso ainda foi para o Rio de Janeiro (julho de 1938) a convite de amigos para aulas e para um cargo público. Mas, depois de uma temporada difícil, decidiu voltar a São Paulo em fevereiro de 1941.
 
Não era fácil desenvolver seus projetos. Segundo o biógrafo Eduardo Jardim, o projeto de Mário de Andrade levou em conta a necessidade de integrar ao corpo da nação seus múltiplos componentes : eruditos e populares, urbanos e rurais, tradicionais e modernos, autóctones e alienígenas. Eram assim amplos seus anseios.

Conheci também a importância de sua correspondência, que é um conjunto de mais de 7000 cartas que ele trocou com pessoas de muitas áreas. Mário de Andrade entendia a correspondência pessoal como documento e testemunho histórico. Este conjunto e as anotações frequentes também desenham seu ideário intelectual e pessoal. Produzia e refletia sobre a criação da obra.

A coleção de suas cartas, assim como todo o arquivo pessoal de Mário de Andrade está guardado no Instituto de Estudos Brasileiros (USP), e consta de 30 000 documentos aproximadamente, 17 mil livros e uma significativa coleção de obras de arte A preservação é realizada de acordo com critérios internacionais e conta com tecnologia avançada. São cerca de 450 caixas que recebem tratamento técnico especial. Uma equipe desenvolve estudos consistentes sobre esse material.

Faleceu em fevereiro de 1945 de ataque cardíaco.

GRANDALHÃO E GENEROSO

Como era a pessoa que construiu esta obra e carreira? Talvez seja uma curiosidade boba. Mas não me satisfaço com a descrição ou a compreensão de sua obra. Não que eu queira desmistificar o ídolo. Pelo contrário, quero trazer o realizador para mais perto da vida cotidiana, aquela que cabe a todos nós sem exceção. Quero conhecer o homem que fez tanto em tão pouco tempo de vida. Sua morte precoce me faz querer saber mais, talvez na tentativa de justificá-la.
Ele não era uma pessoa simples. Era sofisticado. Usava água de cheiro, robe de seda azul em casa; ternos de linho e cambraia, sapatos alinhados. Às vezes, ousava nas gravatas. Tinha uma de cor amarelo canário.

Quando criança, era dispersivo e não foi bom aluno na escola embora gostasse de português. Era religioso e ligado aos parentes e à casa. Grande companheiro da mãe. Fumava muito e tinha cerca de trinta cinzeiros porque detestava derrubar cinza no chão.

Tinha amores platônicos, presentes nas cartas, na poesia e na ficção. Sua sexualidade também foi tema este ano pela abertura de uma carta pessoal, que na verdade não revelou nada para desconcerto de muitas pessoas. Só reforçou seu temperamento discreto e sua conhecida elegância também no trato desse assunto que, segundo ele, só a ele mesmo interessaria. Mário, sensível e cordial rompeu a amizade e parceria com Oswald de Andrade por causa das brincadeiras ferinas nas tiradas verbais do amigo. Era frequentador de rodas literárias e da vida boemia.

Seu sorriso era generoso. Brincalhão, entre os amigos tinha a fama de exagerado. Na família era tido como amalucado, pois, como alguém em sã consciência poderia levar para uma casa católica uma escultura de Cristo de trancinhas? A escultura era de Victor Brecheret e fazia parte das novidades da época que não eram aceitas tão facilmente por uma cidade provinciana que ainda não tinha amadurecido culturalmente para as inovações artísticas que já despertavam pelas cidades da Europa. O termo futurista tinha algo de pejorativo naquela época. Daí, ser ovelha negra na família.

Com disposição incansável, ele era leitor do que ocorria no mundo daquela época. Recebia a correspondência da Europa e era assinante da revista francesa de vanguarda L´Esprit Nouveau, concebida por Le Corbusier e Amédée Ozenfant. Nessa revista todas as artes apareciam ligadas ao urbanismo. Dessa forma, diversificou seu talento de erudito e dominou diversos ramos do saber. Para dar conta dessa curiosidade incansável, dormia não mais do que quatro horas por noite.

Havia formalidade no social e informalidade nas cartas, local de confissões e compartilhamentos com amigos sobre textos e projetos.

Nelas ele dispersou suas constantes tensões internas, aliviadas no exercício da literatura. Em carta a Henriqueta Lisboa em 1943, Mário diz que /.../ escrevendo eu parece que consigo penetrar mais fundo em mim. A escrita visual me obriga a uma lógica inflexível, pelo menos mais nítida.

Uma de suas grandes tristezas, ainda maior do que a perda do irmão quando bem jovem, talvez tenha sido não ter conseguido realizar seu projeto no departamento de cultura em que colocara todos os seus ideais. Fico me perguntando a respeito disso, sem certezas nessa avaliação.

Figura importante na vida cultural brasileira entre 1917 e 1937, Mário de Andrade na avaliação do modernismo concorda queTer-lhe-ia faltado um espírito de ´maior revolta contra a vida como está´. Na verdade, Mário é consciente a respeito do limite a ele imposto.

Em outra carta para o amigo Manu, o poeta Manuel Bandeira, ele confessa: Eu amo a morte que acaba tudo. O que não acaba é a alma.... Sua sensibilidade teria sustentado mal as inadequações e os embates da vida material.

Na apresentação da biografia de Eduardo Jardim, há uma síntese da figura de Mário na vida cultural brasileira: uma estética própria e a prática de interpretação do Brasil com papel de intervenção na vida cultural.


Mas pode ser também o escritor e inspirador nos terrenos da educação e da cultura como elementos de transformação social. Ou ainda, simplesmente um homem sensível , um poeta, um escritor, que teve um percurso biográfico incrível. Múltiplo. Inumerável.

Não sou daqui venho de outros destinosNão sou mais eu nunca fui eu decertoAos pedaços me vim eu caio!

PS1: As informações deste texto foram basicamente coletadas nas quatro palestras  realizadas no Centro Universitário Maria Antônia em junho de 2015, pela equipe do IEB/USP, nas que foram realizadas a respeito dele na Flip deste ano e na leitura dos livros abaixo mencionados. Em tempo: há também alguns indícios leves, porque eu poupei você, meu leitor- da paixão que permanece comigo desde a época da formação acadêmica e que só tem aumentado ao longo das décadas.
Mário de Andrade visto por seus contemporâneos (org pelo Editor) Eu sou trezentos, eu sou trezentos e cincoenta, RJ: Agir, 2008.JARDIM, EduardoMário de Andrade:Eu sou trezentos, vida e obra. RJ: Edições de Janeiro, 2015.

PS2: Visite o site do IEB que mantém, entre outros, o arquivo de Mário de Andrade.  http://www.ieb.usp.br/arquivo


sexta-feira, 30 de outubro de 2015

BATOM E BLUSH


A jovem vendedora da loja de cosméticos começou, então, a passar nos meus cílios um preparado branco, especial para seu alongamento. Com cuidado, depois, passou a cor propriamente dita: um tom de marrom. Foram poucos e precisos gestos com um sorriso nos lábios que acompanhavam as falas da minha cunhada que fazia brincadeiras com a situação.

Depois do almoço, meio cansada e com a face com certeza desbotada, por uma manhã agitada, era interessante a ideia de ver meus olhos delineados de outra forma, mais cheios, mais bonitos, mais qualquer coisa.

Olhei-me e o espelho diria em seguida que ela tinha feito um grande trabalho. Fiquei entusiasmada. E continuei a acompanhar minha cunhada pela exploração das novidades em matéria de cosméticos. Tínhamos o tempo.

Potes pincéis, tubos, caixinhas e outras caixas, esponjas, tralha para tudo e todos os gostos. Era uma aventura por brilhos, cores, espessuras e promessas de  beleza. Coisas femininas demais para a bisbilhotice de qualquer olhar masculino  naquele momento.

Lá foi minha cunhada, então,  experimentar um novo batom, com um brilho especial para tornar os lábios mais grossos.E, com atenção quase religiosa, escolhemos as cores que mais se adequariam à nossa pele e roupa. Tom de rosa para ela e de vermelho-tomate para mim. Mais um outro pormenor: o lápis do tom do batom.  Foi aberto então espaço para a ponta de lápis colorido nos lábios, antes do brilho propriamente dito.

Ritual cheio de detalhes importantes, todos significativos demais naquele tempo de transformação em que o feminino flutua entre o divino e o diabólico, buscando o equilíbrio exato sem romper com as hierarquias e sem deixar de tocar os mitos mais fecundos.

“Ainda faltava algo...” - confabularam a atendente e a cunhada, agitadíssimas, olhando para mim, possivelmente percebendo que haviam ganhado o meu compromisso no ritual - rebelde mais que descrente que eu era no início...  Faltavam o delineador nos olhos e o blush nas faces. E lá foi a mão delicada riscar as pálpebras nos lugares certos, desenhando os traços que dariam mais luz aos olhos agora mais que vivos. No meio da face, alguns toques com o pincel farto. Pronto. A maquiagem estava completa !

E o espelho não negou. Eu via outra mulher refletida à minha frente. Olhei-me então de verdade. Estava muito mudada. Era outra quando havia entrado naquele salão de requinte quase oitocentista (ou seria um laboratório de alquimia medieval ?).

Havia se formado uma confraria entre três mulheres a serviço do feminino. Mas agora eu queria mais além dessa experiência de lindeza.

Uma animação vinda de dentro. Uma sensação de euforia me habitava então. Eu flutuava naquela sensação, ao suspender um tanto a normalidade do dia-a-dia.

E num momento de fantasia, - bêbeda de encantamento.- pela beleza que me fora presenteada, dei-me também a poesia. Voei até a memória mais próxima de um homem que um dia se aproximou de mim e me fez sonhar com a possibilidade do amor. Uma forma de amor, qualquer forma, qualquer amor.

Possível príncipe que ficou no quase, no intervalo, na pequena diferença,- interstício fundamental para se atingir o espasmo de vida que conecta com o maior da natureza humana- hoje, ele tomou da minha mão e fomos.

E fomos tomar vinho (ou era cerveja?) e navegamos  no tempo em que as utopias ainda eram pródigas com a juventude  e  sonhávamos com um mundo melhor em que não houvesse sofrimento nenhum, somente contatos bons entre amigos, cidadãos e governos, pais e filhos, pessoas e amantes.

E fui feliz por receber seus beijos sem perceber o cheiro de cigarro – e, sem sentir  medos da entrega e da perda de mim. Sem tolher movimentos, em contato com o toque carinhoso.

E ele me ouviu e captou o que eu quis dizer e entendeu além das palavras que não precisaram ser ditas, pois antes de proferi-las ele já as tinha ouvido porque partiam do meu coração.

E foi assim sem censura, sem cheiro, sem dados de dura realidade, espasmo de vida, cúmulo de alegria, em nome da beleza que eleva moralmente  homens e mulheres em sua humanidade, e em nome da poesia que é mais que tudo amor, que pudemos receber e dar um ao outro o que é essencial.

E, pulo no escuro, salto no precipício, metáfora da cumplicidade, intimidade na miséria humana que se transforma em generosidade maior, milagre da beleza e do amor, pudemos então nos olhar como homem e mulher,  sem culpa de ser felizes.


quinta-feira, 22 de outubro de 2015

CURSO ON LINE DE PSICOLOGIA JUNGUIANA

ESTE É UM CURSO INTRODUTÓRIO, com alguns dos aspectos centrais da Psicologia Analítica. São oito módulos, as aulas são gravadas em vídeos, e acompanhadas de slides em PDF e uma apostila com ampla bibliografia. Você poderá assisti-lo em sua casa, e no seu próprio ritmo! O conteúdo é apresentado de forma simples e didática, e é acessível para qualquer pessoa. Foi pensado para terapeutas, psicólogos que desejam conhecer melhor os fundamentos desta fascinante escola, e também para aqueles que desejam investir em seu autoconhecimento!
Para ter mais informações, acesse o link: www.cursojungonline.com.br

INTRODUÇÃO E CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
JUNG
Hoje estamos comemorando 140 do nascimento de Carl Gustav Jung, que nasceu em 1875, na Suíça. Aos 25 anos Jung formou-se em medicina e trabalhou como psiquiatra durante bastante tempo com doentes mentais em estado grave.
JUNG posteriormente elaborou os conceitos de chamada PSICOLOGIA ANALÍTICA (ou junguiana) a partir de observações minuciosas dos pacientes psiquiátricos, assim como dos pacientes da sua clínica particular e também a partir de seus próprios processos internos, fossem estes visões, sonhos ou intuições. Isso tudo, sem dúvida, somado a uma rara Inteligência e uma cultura extraordinária, pois sua mente curiosa se voltou para inúmeros assuntos e que nós vamos ver no decorrer das nossas aulas.
No início do século XX, nós assistimos ao nascimento do que se chamou de Psicologia Profunda. Jung com a Psicologia Analítica e Freud com a Psicanálise foram os precursores desse movimento, e essas duas escolas tinham como objetivo central desvendar e compreender tudo aquilo que é irracional, desconhecido no ser humano, ou seja, o seu INCONSCIENTE. A medicina já havia avançado em temas como fisiologia e anatomia, mas a psique humana ainda era um grande mistério a ser desvendado.
Módulo I : Histórico sobre vida Jung
Você vai saber sobre o modelo de ciência que vigorava na Europa no início do século XX. Como se deu o nascimento da Psicologia Analítica. Fatos importantes na vida de Jung, suas áreas de interesse, suas viagens e as suas principais publicações.

No módulo II : Complexos
Você vai poder encontrar algumas explicações importantes para entender melhor como funcionam as emoções, e o que está condiciona determinados tipos de ações. Houve algum tipo de trauma na infância? E como detectar certos gatilhos ou padrões de comportamento que podem ser modificados. Em que áreas da vida as coisas costumam ficar emperradas?
Módulo III: Arquétipos e Inconsciente Coletivo
Você vai entrar em contato com imagens e símbolos muito poderosos que habitam a nossa psique. Essas imagens são universais, comuns a toda humanidade, e por isso têm tanta força. E vai poder observar o poder que elas têm em nossa vida objetiva, e o quanto isso pode enriquecer sua existência e a nossa forma de entender o mundo.


Módulo IV: Sombra
Você vai poder perceber mais rapidamente que algumas reações negativas que acontecem inesperadamente tem a ver com padrões mentais ou emocionais antigos, sombrios, desconhecidos e que exatamente por isso estão sempre atuando de forma inconsciente, negativa ou inadequada, atrapalhando as escolhas e o destino de cada um. Como é possível aprender a elaborar, e integrar esse difícil aspecto na sua consciência?
Módulo V: Tipos psicológicos
Você tem nesta teoria uma tipologia muito interessante para saber, segundo Jung, como funciona a mente humana, de acordo com as chamadas 4 funções da consciência: pensamento, sentimento, sensação e intuição. A importância de entender a sua função dominante, entender as reais diferenças entre as pessoas, melhorar todas as formas de relacionamentos.
Módulo VI: Individuação
Você terá a oportunidade de compreender que existe um processo evolutivo, e que a caminhada de vida, com dores e alegrias, tem um propósito, uma finalidade, que é conhecer a si mesmo, desenvolver suas habilidades e talentos.
Módulo VII: Sincronicidade
Você é capaz de identificar situações e eventos significativos que mostram quando alguém está no caminho certo, e que a vida interna e a vida externa caminham juntas, não são coincidências só que acontecem de forma aleatória. Ou seja, sim, a vida tem um sentido.
Módulo VIII: Sonhos. O que são os sonhos e o que eles querem nos dizer? Suas mensagens são realmente importantes? Qual a importância de estarmos conectados com a nossa vida simbólica e inconsciente? Como podemos entender a linguagem das imagens fantásticas que criamos todas as noites?
MINHAS CREDENCIAIS:
Tenho formação em Psicologia, e atuo como psicóloga clínica há mais de 20 anos. Fiz pós- graduação em psicossomática e curso de extensão em terapias complementares, ou seja, a importância da integração entre mente, corpo e espiritualidade na UNIFESP.
Ao longo destes anos, escrevi vários artigos para a Revista Planeta da Editora Três, e para a Editora Talento, sobre mitologia, astrologia e comportamento que são minhas outras áreas de interesse. Assino o blog www.blissnow.com.br onde escrevo e compilo textos relacionados a estes temas. Sou colaboradora da Editora Pensamento. E.mail para contato: tekav@uol.com.br ou contato@cursojungonline.com.br



quinta-feira, 15 de outubro de 2015

CRÍTICA DE CINEMA, ALGUMAS ANOTAÇÕES

A crítica, oras bolas! Polêmica, esnobe, fora do mundo real, paralela à linguagem das pessoas normais. Conhecemos esse senso quase comum. Mas, ela está lá. Lemos. Necessitamos, queremos. O que é e para que serve ela?
É um viés intermediário, ponte entre a simples leitura e uma mais ampla compreensão. É outra leitura possível a partir da descrição e análise de algum dos recursos do cinema. Daí, é necessário um pouco mais. Ir para o centro da obra, dar com o enigma do filme, descobrir a escondida intenção de seu autor. Ela deve tornar visível o que não é explícito. E o aspecto técnico não deve ser prioritário, segundo Inácio Araújo.
Trata-se de outro tipo de leitura com postura que pode ser de amor. Isso é o que nos diz Jean Douchet. Segundo ele, o aspecto estético pode ser o primeiro limite a nos mover, mas ele deve ser apenas o primeiro. Ele nos instiga para irmos além do silêncio que podemos experimentar perante o êxtase de beleza de uma obra.
Em seguida, para melhor entender esse fazer crítico vêm em nossa ajuda Roland Barthes e Manoel de Oliveira oferecendo também seus caminhos.
O primeiro nos traz a fotografia que é arte umbilicalmente ligada ao cinema. Roland Barthes diz: “Se verdadeiramente se quer falar da fotografia em nível sério, temos que colocá-la em relação com a morte. É verdade que a fotografia é uma testemunha, mas uma testemunha do que já não existe” . Eis a fotografia vista como um enigma fascinante e fúnebre. Esse é também um aspecto do cinema, que nos apresenta uma realidade que é presença ausente, ressurreição.
A segunda referência para aumentar nossa compreensão vem da análise de um filme de Manoel de Oliveira, O Estranho Caso de Angélica. Não por acaso, a personagem é um fotógrafo às voltas com as descobertas da fotografia e da morte. A personagem é posta em conflito na descoberta do sentido da morte e do amor, tudo para aclarar a vida. Entramos nesta obra e testemunhamos a criação de um mundo de sonho e de amor, de morte e de revelação, a partir do mundo da fotografia que nos indica realidades paralelas, amplificação, redundância. Há um enigma nesse filme a ser desvendado. Pela fotografia e pela técnica, pela narração de uma história. Humana e estranha. Como a vida, como a morte.
Diz Douchet que “O único interesse da crítica consiste em tentar efetuar o ato criador inversamente. A partir da casca, sentir e revelar a seiva que a fez nascer.”

Não há certeza de que tenhamos ou sequer possamos atingir a essência do gesto criador de Manoel de Oliveira nesse filme. Mas a leitura crítica será sempre assim inconformada e rebelde em direção à maior e mais significativa compreensão de um filme.
Ainda que insatisfeita, essa travessia, salto além do simplesmente possível, é o que de melhor temos perante a grande obra. Quanto maior a obra, maior a insatisfação da crítica. Mesmo assim, fará valer mais a leitura, a fruição do filme, o nosso tempo.
PS: As informações desse texto foram coletadas no primeiro encontro do curso de Crítica de Cinema ministrado por Inácio de Araújo, na Escola de Cinema em 8/10/2015. São Paulo. Também nas leituras de Roland Barthes, El Grano de la Voz(Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, 2013) e em Jean Douchet, A Estranha Obsessão (Cahiers du Cinéma, 122, ago1961. Tradução de Bruno Andrade).
Inácio Araújo, crítico de cinema.  http://cursoinacioaraujo.blogspot.com.br/